3. Jesus trouxe redenção
O sofrimento de Cristo
O termo grego huper, traduzida por "por", é usada em relação à obra de Cristo. Significa algo feito "em favor de outra pessoa, por amor à outra pessoa", não "no lugar de" (não um substituto). Implica que Cristo fez alguma coisa "em nosso favor" no Calvário; ou seja, ele sofreu e morreu pelos pecados para que pudessem ter vida eterna. Seiscentos anos antes de Jesus nascer em Belém, este ato de sofrimento foi anunciado pelo profeta Isaías, que "viu a sua glória [a glória de Cristo] e falou dele" (Jo 12:41). Isaías diz: "Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5). Esta profecia messiânica mostra que o sofrimento de Cristo na cruz foi pelo pecador.
Huper é usado por Jesus para descrever sua obra na cruz: "o meu sangue . que por [huper, em favor de] muitos é derramado" (Mc 14:24; cf. Lc 22:19-20); "O pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela [huper, em favor da] vida do mundo" (Jo 6:51); "o bom Pastor dá a sua vida pelas [huper, em favor das, por amor das] ovelhas" (10:11; cf. v. 15). João mais tarde escreveu: "Ele [Jesus] deu a sua vida por [huper, em favor de] nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos" (1Jo 3:16). Assim, Jesus entendia que seu sofrimento era para o bem de nós. Até o sumo sacerdote "profetizou que Jesus devia morrer pela [huper, em favor da, para o benefício] nação" (Jo 11:51; cf. v. 52).
Como Paulo escreveu, Cristo "por [dia] nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para [dia] nossa justificação" (Rm 4:25). Neste caso, ele usou dia, significando "por causa de", e não huper. Paulo e outros autores usavam consistentemente o termo huper para descrever o efeito da morte de Cristo: "Cristo . a seu tempo pelos [grego huper] ímpios . Cristo morreu por [huper] nós" (Rm 5:6, 8; cf. v. 10; 8:3, 32; Mc 14:24; Lc 22:19-20; Jo 6:51; 10:11, 15; 11:51-52; 1Co 15:3; 2Co 5:14-15; Gl 1:4; 2:20; 3:13; Ef 5:2, 25; 1Ts 5:9-10; 1Tm 2:6; Tt 2:14; Hb 2:9; 4:12f; 5:1; 7:27; 9:24; 10:12; 1Jo 3:16). O outro termo anti, "em lugar de", não é usado.
Pedro escreveu: "Cristo padeceu por [huper, em favor de] nós . Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver" (1Pe 2:21, 24; cf. Is 53). Esta é uma adaptação de Isaías 53, e não uma citação palavra por palavra. (É mais próxima do texto da Septuaginta do que do texto Hebraico.) O sofrimento foi em favor, por amor do homem. Mas adiante, com uma ênfase semelhante, ele escreve "o justo pelos [huper, por amor dos] injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito" (3:18).
A frase "levando . os nossos pecados" (1Pe 2:24; cf. Hb 9:28; i.e., "as iniqüidades deles levará sobre si" . "ele levou sobre si o pecado de muitos", Is 53:11-12) é um os versículos mais difíceis de entender na Bíblia.[6] Talvez seja melhor entendida à luz de Gênesis 15. Deus numa visão fez uma aliança com Abrão segundo a prática do "caminho-de-sangue" dos caldeus. As duas partes representadas por um "forno de fumaça [Deus o Pai], e uma tocha de fogo [seu Filho]" (v. 17) confirmou a aliança passando pelas metades dos animais (vv. 17-18; cf. Hb 9:15). Deus fez o papel das duas partes já que se Abraão representasse a si mesmo, teria custado o sangue de seus descendentes se estes violassem a aliança. Visto que os descendentes de Abraão pecaram, Cristo metaforicamente "levou nossos pecados" derramando seu sangue por termos falhado em guardar a aliança. A morte de Cristo trouxe cura espiritual (1Pe 2:24) e uma nova e melhor aliança que iria por a lei de Deus no interior deles, ou seja, nos seus corações (Jr 31:33; cf. vv. 31-34; Hb 8:8-13; 12:24), onde todos os fiéis podem ser abençoados (Is 11:10; 42:6; 49:6; 60:3; 61:8-9; et alii). O sacrifício de Cristo e a instituição da aliança refletem a íntima associação encontrada no Antigo Testamento (Sl 50:5).
Em nossa cultura tão influenciada pela grega, gostamos de expressar idéias em palavras - os hebreus nem sempre faziam isso. Por exemplo, quando nos perguntam sobre Deus, dizemos que ele é espírito, santo, justo, verdadeiro, eterno, onipotente, onisciente, imutável, etc. Mas os hebreus diriam, "O Senhor é o meu pastor" (Sl 23:1); "O Senhor é minha rocha", fortaleza, libertador, Deus, força (18:2). Com isto em mente, não insistamos em trazer controvérsia sobre o que fez o sofrimento de Jesus na cruz. Ou Antigo e o Novo Testamentos, ou a igreja primitiva explicou em que consistiu o seu sofrimento na cruz. Sabemos de certeza que sua obra enfatizava o amor e o carinho de Deus para conosco. Fazendo isto, conhecemos: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29), para que possamos "viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas" (1Pe 2:24-25). Sua obra trouxe "a graça e a verdade" (Jo 1:17), pelas quais agradecemos e louvamos ao Senhor. Mais adiante Pedro escreveu que Cristo "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito" (1Pe 3:18).
Jesus ensinou que ele sofreu para remir o homem. Ele era o Servo Sofredor retratado em Isaías 53. Isaías usou enfermidades, ferido, moído (vv. 4, 5) para evidenciar os sofrimentos de Cristo. Jesus "não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos" (Mt 20:28). "É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, e seja rejeitado dos anciãos e dos escribas, e seja morto, e ressuscite ao terceiro dia" (Lc 9:22). Paulo escreveu que há "um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo" (1Tm 2:5-6). Assim como Adão representava o homem e, "assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida" (Rm 5:18; cf. 19; 1Co 15:21-22, 45-50). A obra de Cristo foi realizada em nosso favor (não em nosso lugar); assim ele nos representa perante o governo moral de Deus (usando termos humanos), permitindo Deus perdoar o pecador arrependido e ainda manter o controle de sua criação. Se Deus perdoasse o homem sem a morte de Cristo, o pecado não seria levado a sério. Iríamos fazer pouco caso dele e pecaríamos continuamente.
Também vemos o princípio de um represente na criação de alianças. Deus fez uma aliança com Noé, dizendo: "Eis que estabeleço a minha aliança convosco e com a vossa descendência depois de vós" (Gn 9:9), e "o Senhor uma aliança com Abrão [mais tarde chamado Abraão], dizendo: À tua descendência tenho dado esta terra" (15:18); "eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações" (17:4). Deus também fez uma aliança com Jacó, que foi recebeu o nome de Israel (35:9-10). "Não com nossos pais fez o Senhor esta aliança, mas conosco, todos os que hoje aqui estamos vivos" (Dt 5:3). Deus lembrou-se destas alianças (Êx 2:24; Lv 26:42; 2Rs 13:23; 1Cr 16:15-17; Sl 105:10).
Vamos analisar outros termos associados com o "sacrifício" de Cristo.
[6]Uma coisa sabemos com certeza é que o pecado do homem não foi transferido para Cristo. Tal coisa não é ensinada na Escritura. Em primeiro lugar, em Levítico os pecados dos homens era transferidos para o bode emissário que era solto e não para o bode que era sacrificado (Lv 16:21-22). Se o pecado fosse transferido para Cristo, ele não seria um sacrifício sem mácula (cf. 1:3; 3:1; 4:3). Além disso, a transferência em Levítico era apenas para pecados rituais ou involuntários. Ato de Cristo dar o seu sangue foi um ato de amor pelos homens, e não porque a ira de seu pai Amoroso foi despejada sobre nossos pecados. Seu sangue trouxe perdão e reconciliação.
"A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo"
Leland M. Haines
Um livreto da Biblical Viewpoints
Copyright © 1999
Goshen, IN USA
Todos os direitos reservados.
Editado por Richard Polcyn
Tradução para o português:
Eduardo Vieira da Silva
Primeira impressão, 2007