2. Cristo e as Escrituras
A opinião de Cristo examinada
Uma das perguntas mais importantes a se fazer é: "Qual era a opinião de Cristo a respeito das Escrituras?" A resposta a esta pergunta se encontra em várias passagens do Novo Testamento.
Um indicativo da opinião que Cristo tinha a respeito das Escrituras se encontra em sua resposta à acusação dos judeus de que ele cometera blasfêmia por se fazer igual a Deus. Em sua resposta ele recorreu-se às Escrituras e acrescentou esta afirmação: "e a Escritura não pode ser anulada" (Jo 10:35). Cristo cria que a Escritura era inquestionável. Para ele não havia dúvida sobre a possibilidade de anular ou deixar de lado as Escrituras, pois ela é a verdade revelada de Deus.
Um exemplo de como Cristo via a autoridade das Escrituras se encontra no relato de suas tentações no deserto, que ocorreram depois dos quarenta dias e quarenta noites de jejum. O tentador disse a Cristo: "Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães". Cristo respondeu: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4:3-4; cf. Dt 8:3). Toda vez que tentava Cristo, as palavras do diabo não surtiam efeito, já que Deus tinha revelado a verdade por meio das Escrituras. Cristo iniciava cada resposta com: "Está escrito" (Mt 4:7, 10). Esta declaração é usada freqüentemente na Bíblia para se referir à Palavra de Deus. Jesus também afirmou que devemos viver por "toda a palavra", e não apenas uma parte das Escrituras, mas por todas as suas palavras e ensinamentos.
Jesus fez outras declarações do tipo "está escrito". Quando purificou o templo, ele disse: "Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões" (Mt 21:13). No jardim do Getsêmani, Jesus disse a seus discípulos que iria ser dispersos, porque "está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão" (26:31; cf. Zc 13:7). Jesus usou as palavras fidedignas "está escrito" para mostrar que Palavra de Deus é justificada por suas ações. Esta fórmula digna de crédito mostrava que ele acreditava que o Antigo Testamento era a absoluta verdade.
Jesus também usou afirmações do tipo "foi dito" (Mt 5:21, 27, 31, 33, 38, 43). Estas afirmações se referiam à revelação dada por Moisés aos israelitas. Os discípulos tinham ouvido a lei exposta já muitas vezes, mas Jesus iria dar ao homem uma Nova Aliança. Seus discípulos deviam viver conforme o seu "Eu, porém, vos digo".
Quando os saduceus perguntaram sobre o casamento, Jesus replicou: "Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?" (Mc 12:24). Depois perguntou: "Não tendes lido no livro de Moisés como Deus lhe falou na sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó?" (v. 26; Êx 3). Ele então disse aos saduceus que Deus era o Deus dos vivos; havia ressurreição (v. 27). Eles erravam porque não se recorriam das Escrituras para achar a resposta, mas criavam debates entre si. Jesus confirmou que as Escrituras continham o que Deus falava, e sua Palavra era clara e fácil de entender. Estes líderes erravam, assim como todos os outros que erram, porque não "sab[iam] as Escrituras".
Sobre o homem rico que derrubou os seus celeiros para construir outros maiores, Jesus comentou: "Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma" (Lc 12:20). Talvez esta passagem seja uma paráfrase de Jeremias 17:11, ou um caso que Jesus recontou da história. Isso mostra que Jesus cria que Deus realmente falava com o homem e que a sua comunicação podia ser entendida. Se o homem pode entender a Palavra falada, certamente pode entender a Palavra escrita.
Em um de suas orações, Jesus disse que os seus discípulos não são do mundo e que portanto viver num plano muito mais elevado. Ele rogou a Deus Pai: "Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17:17). Eles deviam viver pela verdade, e esta verdade é conhecida porque a "palavra [de Deus] é a verdade". Mais cedo Jesus falara que "Deus é verdadeiro" (3:33; cf. 7:28; 8:26) e sobre o "Espírito de verdade" (14:17; cf. 16:13). Ele deu testemunho de si: "Aquele que vem de cima é sobre todos . E aquilo que ele viu e ouviu isso testifica . Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida" (3:31-34). Jesus Cristo falou as "palavras de Deus" a seus discípulos, e eles, por sua vez, escreveram as mesmas palavras.
Jesus acreditava que Deus falava por meio dos seus profetas, tal como Moisés e Jeremias, para dar aos homens os seus mandamentos. Isso fica evidente na resposta que ele deu aos fariseus e escribas quando estes alegaram que os discípulos estavam transgredindo as tradições dos anciãos. Jesus lhes perguntou: "Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? Porque Deus ordenou, dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá" (Mt 15:1-7; cf. Êx 20:12; Jr 35:18-19).
Jesus revelou mais da sua opinião sobre as Escrituras na parábola de Lázaro e o rico. O rico pediu a Abraão que advertisse os seus irmãos para que eles não fossem para o inferno, o lugar de tormento. Cristo disse: "Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele [o rico]: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite" (Lc 16:29-31; cf. vv. 19-28). Cristo, ao relatar esse incidente, deu seu apoio ao ponto de vista de Abraão de que a Escritura é suficiente para a redenção do homem, e que se os homens não cressem, eles não serão persuadidos. Jesus tinha as Escrituras como o meio completo e suficiente para revelar o seu Caminho.
Em outra ocasião Jesus expressou esta opinião novamente. Ele disse aos judeus: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam . Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (Jo 5:39, 46, 47). As escrituras do Antigo Testamento testificam de Cristo e estão no mesmo nível que a sua própria Palavra; elas têm que ser cridas. Jesus cria que as Escrituras têm autoridade e são dignas de confiança para que a crença do homem a respeito de Cristo e de sua missão redentora possa ser diretamente ligada a ele (Jesus).
"A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo"
Leland M. Haines
Um livreto da Biblical Viewpoints
Copyright © 1999
Goshen, IN USA
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Editado por Richard Polcyn
Tradução para o português:
Eduardo Vieira da Silva
Primeira impressão, 2007