1. A graça de Deus vence o pecado
Jesus pregou o discipulado
Em todo o seu ministério, Jesus chamou homens para se tornarem seus discípulos. Um discípulo é um aprendiz, um aluno, um seguidor, um aderente, etc. Os quatro evangelhos contêm muitos ensinamentos que focam no discipulado.
Quando Cristo disse a Pedro: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”, houve uma ação: “Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no”. Depois Jesus viu dois irmãos, Tiago e João, consertando suas redes e os chamou: “Eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no” (Mt 4:19-22; cf. Mc 1:16-20; Jo 1:43). O verbo grego “seguir” usado aqui significa tornar-se um seguidor de Cristo por toda a vida. Jesus usava esse termo freqüentemente (leia Mt 8:22; 9:9; 10:38; 16:24; 19:21, 28; Mc 2:14; 8:34; 10:21; Lc 5:11; 9:23, 59-62; 18:22; Jo 10:4, 27; 12:26; 21:19, 22; cf. 1Pe 2:21).
Mateus é um exemplo do tipo de reação que Jesus esperava. Como cobrador de impostos, eles estava sentado no seu local de trabalho quando Jesus lhe disse: “Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu” (Mt 9:9; Mc 2:14; Lc 5:27-28). Mateus, um dos “publicanos e pecadores” (Mt 9:11), arrependeu-se, mudou sua vida, e tornou-se um discípulo devoto. O chamado para seguir Jesus resultou numa reação de boa vontade e numa ação imediata.
Mateus escreveu que depois do Sermão do Monte, grandes multidões seguiram Jesus. Finalmente, para se apartar delas, ele resolveu ir para o outro lado do mar da Galiléia. Dois chegaram a ele dizendo que iriam segui-lo (Mt 8:18-22). Lucas escreveu na seção especial de seu evangelho (9:51-18:14) que quando Jesus não foi aceito numa aldeia dos samaritanos, ele seguiu em direção a Jerusalém. A caminho de lá, Lucas disse que três se ofereceram a segui-lo (Lc 9:57-62). Ainda que talvez não seja o mesmo incidente, os dois homens de ambos os evangelhos fizeram declarações semelhantes.
Quando a primeira pessoa se aproximou de Jesus, ela foi logo dizendo: “Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores” (Lc 9:57; Mt 8:19). Lucas identifica esta pessoa somente como um homem, enquanto que Mateus diz que ele era um escriba. Ele, portanto, seria uma pessoa estudada, e de certo conhecedora dos ensinamentos de Jesus. A apresentação que Mateus faz da segunda pessoa, “outro de seus discípulos”, indica que era um discípulo. Sua pressa em se oferecer pode ter sido uma reação impulsiva por ter conhecido a respeito de Jesus. A resposta de Jesus para ele foi que considerasse o custo: “As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9:58; cf. Mt 8:20). Jesus não tinha casa, e isso pode ser contribuído para o fato de ter sido um Homem de dores. Segui-lo custaria caro, e as pessoas precisavam levar isso em consideração antes de começarem a segui-lo.
O segundo homem, identificado em Mateus como discípulo (Mt 8:21), aceitou a chamada de Jesus de segui-lo, mas queria fazer primeiro uma coisa aparentemente justificável: “Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai” (Lc 9:59). Como discípulo, ele conhecia os ensinos de Jesus, contudo pensou que poderia fazer isso primeiro e seguir depois. Jesus respondeu: “Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus” (v. 60). Havia alguma coisa mais importante a fazer. Jesus chamou este discípulo para um serviço de pregação. Sendo que Mateus põe sua história exatamente antes dos setenta serem enviados e voltarem da missão de pregar (Mt cap. 10), dá a entender que o chamado para pregar estava nas mentes de Mateus e Lucas. Este serviço a Deus e ao próximo tinha que ser feito sem demora.
Lucas escreveu sobre a terceira pessoa que, de maneira semelhante, pediu um prazo: “Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa” (Lc 9:61). Esse candidato a discípulo foi esclarecido que nada deve atrapalhar seu serviço ao Senhor. Como Jesus observou: “Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (v. 62). Outra vez vemos alguém querendo seguir, todavia sem estar pronto. Seu adiamento podia parecer justo, porém envolvia o risco de sua família influenciá-lo em outra direção (cf. Mt 10:37). O discipulado pode ser um caminho difícil; ninguém deve olhar para trás depois de tomar a cruz.
Quando Jesus enviou seus doze discípulos para pregar que “é chegado o reino dos céus” (Mt 10:7), e fazer as obras que ele estava fazendo, ele deu instruções a respeito do discipulado. Os discípulos seriam como “ovelhas ao meio de lobos” (v. 16), e deviam esperar oposição e perseguição. Isto ilustra a regra geral de que “não é o discípulo mais do que o mestre” (v. 24). Neste caso, os discípulos podiam esperar o mesmo tratamento que o seu Mestre estava recebendo.
Jesus em seguida lhes disse: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10:34). Pode haver um conflito aqui na edificação do reino, e a paz esperada não viria imediatamente (cf. Is 9:2-6). “À terra”, se refere aos homens em geral. A falta de paz é o resultado de um homem não atender à chamada de Jesus de segui-lo. A oposição pode acontecer até mesmo dentro de sua própria casa (Mt 10:35-36). Depois Jesus afirma dois princípios: “Quem ama [um membro da família] … mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” (vv. 37-38).
Em oura ocasião, quando grandes multidões acompanhavam Jesus, ele falou uma mensagem semelhante. Há uma necessidade de “odiar” os familiares e a própria vida. “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14:26; cf. 12:51-53). Estas parecem ser palavras duras, mas é verdade que seus discípulos têm que deixar de lado todos os interesses que impeçam uma entrega completa e uma lealdade total a Cristo. Este “ódio” pode ser entendido comparando-o ao amor que Jesus exigiu no parágrafo acima. Os discípulos têm que amar Jesus mais do que a todos os outros, e serem fiéis e leais a ele em primeiro lugar. Isso deve transcender todas as relações de família e todos os desejos pessoais.
Em certo sentido, a cruz era a missão especial de Jesus para a vida. Os discípulos não precisavam aguardar levar uma cruz literal como a que Jesus levou para ser crucificado. Contudo, os discípulos podem esperar oposição, e até mesmo a morte. Devemos devotar a nós mesmos a seguir a missão de Deus para a nossa vida, e isso exige o trabalho da Grande Comissão e tudo o que ela inclui. Se alguém procurar evitar isso, “quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á” (Mt 10:39).
Mais adiante, depois de contar aos discípulos que ele precisava sofrer e ser morto em Jerusalém, Jesus lhes disse, como antes: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á” (Mt 16:24-25; cf. Mc 8:34–9:1; Lc 9:23-27; 14:27; 17:33). Renunciar-se a si mesmo significa renegar os próprios desejos e entregar-se completamente a Deus para segui-lo, mesmo se isso implique tomar a cruz. Se alguém tenta evitar a sua cruz e assim salvar a sua vida, ele a perderá no final. Sendo disposto a perder a sua vida por amor ao Senhor, a pessoa a encontra. De modo que tomar a cruz e seguir a Cristo é uma parte necessária e de suma importância da redenção.
Nada deve atrapalhar o seguir a Cristo. Jesus disse: “qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14:27). Depois mencionou que a pessoa que pretende construir uma torre primeiro calcula o custo para ter certeza de que pode concluí-la, e que nenhum rei iria fazer guerra sem primeiro considerar se tem capacidade de vencê-la. “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (v. 33). O discipulado e a salvação são assuntos sérios e exigem um comprometimento total no início, deixando tudo o mais em segundo lugar durante toda a vida. Jesus Cristo tem que estar em primeiro lugar na vida do discípulo.
Aqueles que seguem mudam sua conduta e são libertos do pecado. Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8:12). Alguns judeus, ao ouvirem isso, questionaram-no. Jesus disse a outros “judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (vv. 31-32). Estes crentes disseram a Jesus que eram filhos de Abraão e que não estavam cativos, e lhe perguntaram: “como dizes tu: Sereis livres?” (v. 33). Jesus lhes disse: “Todo aquele que comete pecado é servo do pecado” (v. 34). O discípulo não pode ser escravo do pecado, mas um filho de Deus que ama fazer a vontade de seu Pai. Esta liberdade de obedecer é a verdadeira liberdade.
Jesus deu o exemplo das ovelhas para nos ajudar a entender o discipulado. Quando o “porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. … e as ovelhas o seguem, … Mas de modo nenhum seguirão o estranho” (Jo 10:3-5). Mais adiante Jesus explicou: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (vv. 27-28).
Em João 15, Jesus explica como a parte de dar frutos está relacionada ao discipulado. “Quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (v. 5). Depois explica: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. … Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor” (vv. 8-10).
Para que ninguém pense que o discipulado é um fardo, Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11:28-30). Como pode o discipulado ser fácil? A resposta está no novo nascimento, que transforma a natureza interior do discípulo de modo que deseje fazer a vontade de Deus, assim ele não fica sobrecarregado com um fardo, mas sim encontra justiça, paz e gozo (Jo 14:27; 16:33; Rm 14:17; 15:13; Gl 5:22, et alii) A mudança interior retira o fardo, mesmo que o discípulo sofra por causa de Cristo (Mt 10:16-25; Lc 10:3; 21:5-19; Rm 8:17; Fp 1:29-30; 3:10; 2Tm 2:12; 1Pe 4:12-14; 5:10).
O discipulado é um caminho estreito e difícil que é muito diferente da representação que muitos fazem do cristianismo. No Sermão do Monte, Jesus declarou: “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Mt 7:13-14; cf. Lc 13:23-24). O discipulado não é um fardo nem um caminho largo, mas é o caminho que conduz à vida eterna.
“A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”
Leland M. Haines
Um livreto da Biblical Viewpoints
Copyright © 1999
Goshen, IN USA
Todos os direitos reservados.
Editado por Richard Polcyn
Tradução para o português:
Eduardo Vieira da Silva
Primeira impressão, 2007