3. Jesus trouxe redenção
A morte de Cristo
A Bíblia ensina que Jesus veio ao mundo remir o homem através de sua morte e ressurreição. Já no início do seu ministério Jesus profetizou aos judeus: "Derribai este templo, e em três dias o levantarei" (Jo 2:19). Os judeus não o entendiam e achavam que ele estava falando do templo de Jerusalém que levou quarenta e seis anos para ser construído. Não compreendiam que Jesus estava se referindo a si mesmo ressuscitando três dias depois que tirassem sua vida. João escreveu que "quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se" de suas palavras e creram nele e na Escritura (v. 22).
Jesus diversas vezes se expressou sobre sua morte. Em resposta a uma pergunta feita por Nicodemos, Jesus disse: "E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3:14). Na sua parábola do Bom Pastor, Jesus disse que veio para "para que [as pessoas] tenham vida, e a tenham com abundância. Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas . dou a minha vida para tornar a tomá-la" (Jo 10:10-11, 17; cf. v. 18). Isso é um vislumbre da cruz e da ressurreição, que seria uma rendição voluntária da sua vida em plena harmonia com o propósito do Pai. Em resposta ao pedido de um sinal, Jesus declarou que nenhum sinal a não ser "o do profeta Jonas; Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra" (Mt 12:39-40; cf. 16:4; Jn 1:17). Nenhuma resposta foi dada porque eles diziam que Jesus curava (v. 22) pelo poder de Belzebu, i.e., o diabo (v. 24; cf. 22-37). Parece que Jesus passou somente a noite da sexta-feira e do sábado no sepulcro. Os três dias e três noites que Jesus falou é uma expressão judaica para computar os dias contando as noites com os dias (cf. Et 4:16; 5:1).
Depois da confissão de Pedro de que Jesus era "o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16:16), Jesus disse aos discípulos que ele tinha que "ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia" (v. 21; cf. Mc 8:31; Lc 9:22). Ele repetiu isso na Galiléia (Mt 17:22-23; cf. Mc 9:30-31; Lc 9:43-44; 17:25). Quando chegou o tempo de Jesus dar a sua vida, ele foi a Jerusalém para a Páscoa. Quando advertido de que Herodes planejava matá-lo, ele disse: "não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém" (Lc 13:33). Enquanto viaja para Jerusalém, Jesus explicou: "Eis que vamos para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e condená-lo-ão à morte. E o entregarão aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará" (Mt 20:18-19; cf. Mc 10:33-34; Lc 18:31-33). Além disso explicou: "O Filho do homem . veio . para dar a sua vida em resgate de muitos" (v. 28; cf. Mc 10:45).
A última semana de Jesus foi passada dentro e nos arredores de Jerusalém com seus discípulos. Pouco depois da Páscoa, Cristo disse aos discípulos novamente: "O Filho do homem será entregue para ser crucificado" (Mt 26:2). "Sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai", ele fez uma ceia da Páscoa especial com os seus discípulos. Jesus tomou o pão, partiu-o, e o entregou aos discípulos dizendo: "Tomai, comei, isto é o meu corpo" (v. 26; cf. Mc 14:22; Lc 22:19), e tomou um cálice, dizendo: "Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue; o sangue do novo testamento [aliança], que é derramado por muitos, para remissão [perdão] dos pecados" (vv. 27-28; cf. Mc 14:23-24). Ele tomou o cálice da Páscoa, um símbolo de libertação, e lhe deu um novo significado: um símbolo de seu sangue dando vida nova. Dois dias depois, na Páscoa, ele morreu na cruz (v. 2). Jesus então falou com eles, "Depois de eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia", mencionando a sua ressurreição (v. 32).
Os líderes de Jerusalém estava mais e mais se opondo a Jesus. Procuravam qualquer oportunidade de achar algum erro nele, na esperança de darem um fim a ele. Durante este tempo, Jesus novamente purificou o templo. Lá, na frente da multidão, Jesus denunciou os escribas e fariseus com muitos "ais" pois eles impunham cargas pesadas ao povo, fazendo obras apenas para serem vistos pelos homens, fechando o reino para que os homens não entrassem, negligenciando assuntos de mais importância na lei (a justiça, a misericórdia e a fé), sendo os filhos dos que assassinaram os profetas, etc. (Mt 23). Por causa dessa censura tão reveladora, a liderança aumentou seus esforços para pôr fim à sua vida (26:3-4).
Os chefes dos judeus logo mandaram prender Jesus para ser interrogado. No seu julgamento, falsas testemunhas fizeram muitas acusações contra Jesus, mas nenhuma forte o suficiente para o sentenciar à morte. Finalmente, acharam dois que acusaram Jesus de dizer: "Eu posso derrubar o templo de Deus, e reedificá-lo em três dias" (Mt 26:61; cf. Jo 2:19). O sumo sacerdote queria que ele respondesse a essas acusações, mas ele permaneceu calado. Então o sumo sacerdote disse: "Conjuro-te pelo Deus vivo" (esta era uma maneira judaica de pô-lo sob juramento) que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus" (v. 63). Segundo a lei, ele tinha que responder, então Jesus disse: "Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu" (v. 64). Na prática, Jesus disse ao sumo sacerdote que ele iria vê-lo no julgamento. O sumo sacerdote respondeu: "Blasfemou" (v. 65). O povo na audiência gritou: "É réu de morte" (v. 66). Por causa das palavras do próprio Jesus,os judeus tiveram uma acusação de blasfêmia digna de morte contra ele (Lv 24:16). Jesus estava entregando a sua própria vida; eles não a estavam tirando. Como ele disse antes: "Ninguém ma tira de mim [minha vida], mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la" (Jo 10:18).
Pilatos, o governador romano, não achou "culpa alguma neste homem" (Lc 23:4). Ele queria que Jesus fosse solto (vv. 20, 23), mas sentiu a pressão do clamor da multidão: "crucifica-o, crucifica-o (v. 21). Como Pilatos temia que houvesse um tumulto, ele entregou Jesus. Assim, simbolicamente lavando suas mãos, mostrando que estava limpo daquele ato ilegal (Mt 27:24; cf. Sl 26:6; 73:13), Pilatos entregou Jesus para ser crucificado (v. 26).
Depressa prepararam Jesus para ser crucificado, a forma mais cruel de morte já inventada. Planejada para tornar a morte tão demorada e dolorosa quanto o corpo pudesse agüentar, era também considerada o castigo mais vergonhoso possível. Jesus - o Inocente, o Filho de Deus, o Criador - por suportar a crucificação, teve uma morte de sofrimento físico e mental inimagináveis. Para nós, a dor física parece suficiente, mas o sofrimento mental deve ter sido mais do que as palavras podem descrever, por causa de quem Jesus é e do que ele sofreu quando os homens o rejeitaram. No lugar chamado Gólgota ("lugar da Caveira", Mt 27:33; cf. Mc 15:22; Jo 19:17), o qual Luca identificou em Latim como Calvário (Lc 23:33), Jesus foi crucificado - nenhum escritor deixou detalhes descritivos da crucificação. Uma placa foi posta sobre a cruz: "JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS" (Jo 19:19). Os sacerdotes queriam que ela fosse retirada, mas Pilatos declarou: "O que escrevi, escrevi" (v. 22).
Lá Jesus sofreu mais zombarias, exatamente do povo cuja esperança estava nele. "Tu, que destróis o templo, e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se és Filho de Deus, desce da cruz" (Mt 27:40). Os líderes judeus também escarneciam dele: "Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e crê-lo-emos. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama" (vv. 42-43; cf. Mc 15:29-32; Lc 23:35-37). Jesus suportou todo o sofrimento que a cruz lhe podia dar. Ele rejeitou a mistura de mirra e vinho forte com mirra, que aliviaria a dor. Jesus veio ao mundo para morrer pelos pecados dos homens, e ele suportou o sofrimento por completo. Visto que sua morte era um sacrifício voluntário, ele orou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23:34). Ele desejou o perdão para aqueles que realizaram a sua morte.
Trevas se espalharam pela terra durante as últimas três horas em que Jesus esteve pendurado na cruz (Mt 27:45; Lc 23:44), causando um profundo sentimento de solidão em Cristo. Perto da hora nona (três horas da tarde), Jesus bradou: "Eli, Eli, lamá sabactâni", que significa, "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (v. 46; cf. Mc 15:33-35; cf. Salmo 22:1). Este brado pode ter sido dado quando momentaneamente sentiu a desolação, o abandono e o desespero. Seu sofrimento deve ter obscurecido sua visão espiritual; sem dúvida sabia que o Pai ainda estava perto de si. Para melhor entender isso, Lenski sugeriu que essa passagem fosse traduzida assim: "Meu Deus, meu Deus, com que tipo de gente tu me deixaste?"[3] Isso dá a entender que Deus, ao retirar a sua mão protetora, deixou-o sofrer sem nenhuma esperança de livramento físico. Alguns pensaram que ele estava chamando por Elias.
Ao se aproximar a hora de o cordeiro pascal ser imolado, Jesus viu que estava perto do momento de sua morte e clamou: "Tenho sede" (Jo 19:28). Alguém lhe trouxe vinagre e "deu-lho a beber, dizendo: Deixai, vejamos se virá Elias tirá-lo" (Mc 15:36). Ele em seguida exclamou em alta voz: "Está consumado", e entregou o seu espírito (Jo 19:30; Lc 23:46). A morte de Jesus concluiu a sua obra redentora. Derramando o seu sangue, a vida do corpo, ele morrer uma vez por todas pelos pecados dos homens (Hb 9:12, 14, 26; cf. Rm 6:10).
No momento da morte de Jesus, o véu do templo, que separava o Lugar Santo do Santíssimo, rasgou-se de alto a baixo em dois pedaços (Mt 27:51; Mc 15:38; Lc 23:45). O véu rasgado simbolizava o fim do velho sistema de sacrifício e adoração[4]. O véu cumprira o seu propósito na preparação do homem para o Cristo. O véu rasgado significa que o acesso a Deus agora está disponível a todos os que entram pela Porta e por meio do Pão da Vida. Não há mais necessidade de outros sacrifícios e de um sumo sacerdote já que Cristo ofereceu "para sempre um único sacrifício pelos pecados" (Hb 10:12; cf. 7:26-28). Outros acontecimentos, tais como terremotos e abertura de túmulos, também ocorreram na morte de Jesus. Alguns mortos ressurgiram depois da ressurreição de Jesus e apareceram em Jerusalém (Mt 27:51-54). Um centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo estas coisas, "tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era Filho de Deus" (Mt 27:54; cf. Mc 15:39; Lc 23:47). A multidão que viu o que acontecia "voltava batendo nos peitos" (Lc 23:48).
Os judeus não queriam que os corpos (de Jesus, e dos dois criminosos crucificados com ele) ficassem pendurados na cruz durante o sábado que se aproximava, por isso pediram a Pilatos que quebrassem suas pernas para acelerar a morte deles. Pilatos mandou soldados para fazerem isso, mas Jesus já estava morto, então "não lhe quebraram as pernas. Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água" (Jo 19:33-34). Estas coisas cumpriram as Escrituras: "Nenhum dos seus ossos será quebrado" e "Verão aquele que traspassaram" (vv. 36-37; cf. Êx 12:46; Nm 9:12; Zc 12:10).
[3]R. C. H. Lenski, Interpretation of St. Mark's Gospel, Columbus, Ohio: Wartburg Press, 1946, p. 717
[4]Contudo, o templo e o seu sistema de sacrifícios continuou em funcionamento até o ano 70 d.C. Por um tempo, até os discípulos o freqüentavam (At 2:46; 3:1; 5:20, 25, 42; 21:26).
"A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo"
Leland M. Haines
Um livreto da Biblical Viewpoints
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Goshen, IN USA
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Editado por Richard Polcyn
Tradução para o português:
Eduardo Vieira da Silva
Primeira impressão, 2007